Leitor e leitura
A assertiva de Calvino de que “Um clássico é um livro que nunca
terminou de dizer aquilo que tinha para dizer” nos remete à condição do
humano em seu inacabamento.
Para o pensador russo e teórico das artes Mikhail Bakhtin, a definição de
literário pressupõe um diálogo com o mundo da cultura e, por consequência, a
leitura é entendida como um ato interativo. O autor parte do princípio de que a
linguagem mesma tem sua origem no social, na comunicação entre os
indivíduos e é, por isso, dialógica.
No mesmo sentido, Calvino assinala, sobre os clássicos, que eles
“trazem consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si
os traços que deixaram na cultura ou nas culturas que atravessaram”.
Mais que a compreensão de um texto, no ato da leitura o leitor é
permeado pela construção de sentidos e de um posicionamento crítico
enquanto sujeito. Também nesse sentido – e por envolver um sujeito leitor que
traz consigo uma bagagem própria de experiências sociais, históricas e
culturais – está a oportunidade de diálogo que a leitura proporciona, com outras
vozes e contextos.
Segundo Bakhtin, o texto literário é o que aproxima o eu e o outro, por
se configurar possibilidade de troca de discursos, uma vez que materializa
diferentes vozes e consciências. O leitor mobilizado pela leitura é levado a
produzir respostas a essas vozes.
No ensaio de Calvino, merece ser observada a reflexão sobre o caráter
formativo da leitura, por permitir “modelos, recipientes, termos de comparação,
esquemas de classificação, escalas de valores, paradigmas”, quando se é
jovem, e percepções outras na releitura, por meio de nova perspectiva histórica
e de um sujeito já modificado pela experiência.
Referências
CALVINO, Italo. Por que ler os clássicos? Tradução Nilson Moulin. São Paulo:
Companhia das Letras, 2007.
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